"... ficaram sabendo que as tardes em que a avó dizia dirigir-se a um centro de terceira idade para se divertir, na verdade, eram ocupadas por um trabalho voluntário em um asilo para idosos, alguns mais jovens que ela, mas com menos saúde e mais tristeza. Ela registrava fatos, incluindo os momentos alegres, como as festas que comemoravam datas ou apenas 'celebravam a vida', para usar suas palavras, e também os tristes, como as mortes frequentes e as crises próprias da sensação de abandono.
Entre os escritos, um depoimento as tocou profundamente, aqui reproduzido: 'Eu me doo porque me perdoo. Quando era jovem e tola, eu queria tudo para mim, achava que o mundo era meu e que eu podia usufruir dele sem pedir nem agradecer. Agora, que sou muito mais velha e um pouco mais sábia, entendi que nada me pertence de verdade, nem a vida, que passa em um instante, nem meus filhos, que apenas vieram de mim, e muito menos as coisas, que são apenas matéria, e continuarão sendo, mesmo quando eu deixar de ser. Depois de uma vida dedicada às tolices, decidi perdoar-me por ser tola e dar-me a chance de ser generosa, assim eu terei a única coisa que me pode pertencer: minha própria paz.'
A descoberta e o texto mexeram profundamente com os sentimentos da filha e da neta. Não era para menos. Elas começaram, então, a lembrar os detalhes da vida da avó, que realmente havia mudado de um comportamento supeficial e mundano para outro, mas profundo e espiritualizado, ao longo dos anos, especialmente após ter enviuvado. Ela havia sido uma mulher rica que não conhecera o sofrimento da escassez ou do desamor. Mas, quando amadureceu, fez uma escolha que definiu como sendo a troca da 'tolice pela generosidade'."
... um pouco de reflexão, poética e sentimento, nesse domingo à noite, dia oficial da melancolia.
Um comentário:
O texto é maravilhoso,dá para refletir muito,obrigado.
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