segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Num final de semana perfeito

Num final de semana perfeito, o sol sairia bem cedinho e viria na minha janela sussurrar pra eu levantar rapidinho que a vida me espera lá fora.
Num final de semana perfeito, eu colocaria aquele vestido que você me deu e calçaria aquelas sandálias coloridas como os dias de primavera do fim de outubro.
Num final de semana perfeito, você me esperaria no portão, com flores escondidas trás do seu corpo e com um sorriso luminoso.
Num final de semana perfeito, a gente fugiria prum lugar longe de tudo isso que só a gente conhece.
Num final de semana perfeito, a gente passaria o dia inteiro pra lá e pra cá na rede, decorando letras de músicas e declamando poemas do Quintana.
Num final de semana perfeito, eu colheria os beijos mais doces dos teus lábios e você me teria nos braços como uma criança mimada.
Num final de semana perfeito, o sol se poria devagarinho e os seus raios alaranjados abençoariam a paisagem mais linda que eu já vi.
Num final de semana perfeito, a noite viria de mansinho e as estrelas tomariam o céu.
Num final de semana perfeito, a cama seria só uma desculpa pras loucuras que faríamos entre quatro paredes.
Num final de semana perfeito, passaríamos a noite decorando a geografia dos nossos corpos e o sono viria bem depois.
Num final de semana perfeito, dormiríamos o sono dos justos e sonharíamos com os anjinhos.
Num final de semana perfeito, não existiria segunda-feira.

sábado, 17 de outubro de 2009

amor não é jogo de azar - de Clarah Averbuck

tem tanta coisa que não importa
saio aqui nesta janela com a pior vistada praça rusvel da qual eu tanto reclamo e
penso: não importa

não importa de quem ou para quem
não importa se foi ou foi inventado

não importa se sou eu ou você.

importa a ardência no nariz
o aperto no peito
o gozo
o quase gozo
umas idas e vindas uns começos e uns fins
a montanha de travesseiros que conseguimos fazer na nossa cama grandona
o som bem equalizado
a vida,
meu querido,
a vida
e todo esse amor que nunca vai embora.
o amor não é jogo de azar
isso aqui não é las vegas
e jamais conseguiremos fugir de nós mesmos.
lembra?


in: http://clarahaverbuck.virgula.uol.com.br/?p=317


nota de rodapé: os amores modernos, meu bem, são sempre melhores virtualmente...

sábado, 10 de outubro de 2009

Eu sou

Eu já fui, um dia, bem mais do que sou hoje.
Já fui bailarina, já fui astronauta, já fui rainha.
Já fui feia, já fui mendiga e maltapilha, também.
Já fui poeta, fui cantora, compositora, modelo e atriz.
Já fui triste, já fui chorona, já fui malamada.
Já fui pequena, rancorosa... já fui grande e perdoável...
Já fui amiga, já fui amante, já fui a atual e a outra também.
Já fui aquela que sonha com dias melhores pra sempre.
Já fui aquela que não tá nem aí.
Já fui dançante, já fui direto pro travesseiro e pra debaixo do chuveiro.
Já fui leitora, já fui tiete, já fui jurada.
Já fui...
Mas amanhã eu vou ser muito melhor do que hoje.
Vou ser mãe, vou ser avó, vou ser cinza.
Vou ser esperança, vou ser verde, azul, amarelo e vermelho também.
Vou ser futuro, vou ser passado.
Vou ser aquela que te tira o fôlego.
Vou ser aquela que fita o infinito.
Vou ser um ser humano melhor ou pior.
Vou ser uma arquiteta respeitada, uma mãe desnaturada ou uma mulher pirada.
Vou ser grande, imensa, gigante.
Vou ser viajante, viajada, parada.
Vou ser nada além do que eu mesma.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Olhando pro meu umbigo...

Eu só queria entender o que se passa na cabeça das pessoas... Será que é pedir muito?
Todos os dias eu me esforço pra ser uma pessoa melhor.
Eu faço terapia pra entender e me entender.
Rezo pra ter paciência, eu respiro fundo.
Mas, absurdamente, eu ainda observo os seres humanos...
E tenho a estranha sensação de não-pertencimento a este mundo...
Os outros têm um defeito muito feio: só olham pra si mesmos, num exercício eterno de egoísmo explicito.
Se a gente parasse e olhasse ao redor, quem sabe veria tudo menos distorcido.
Sim, porque quem olha através das próprias lentes, vê as coisas distorcidas.
Os seres humanos são uns bichos engraçados...
Despejam milhares de palvaras uns em cima dos outros e não veem, que se nesse exercício peristáltico, sujam, quebram, magoam...
É dificil aceitar que os outros sejam assim, até porque os outros também devem me ver assim...
Eu não sei ao certo o que se passa, mas continuo incompreendendo o mundo ao redor...
por mais terapia que eu faça, por mais que eu reze...

domingo, 4 de outubro de 2009

Pensando bem... Generosidade, de Eugenio Mussak (Revista Vida Simples, Mar 2009, p.47)

"... ficaram sabendo que as tardes em que a avó dizia dirigir-se a um centro de terceira idade para se divertir, na verdade, eram ocupadas por um trabalho voluntário em um asilo para idosos, alguns mais jovens que ela, mas com menos saúde e mais tristeza. Ela registrava fatos, incluindo os momentos alegres, como as festas que comemoravam datas ou apenas 'celebravam a vida', para usar suas palavras, e também os tristes, como as mortes frequentes e as crises próprias da sensação de abandono.
Entre os escritos, um depoimento as tocou profundamente, aqui reproduzido: 'Eu me doo porque me perdoo. Quando era jovem e tola, eu queria tudo para mim, achava que o mundo era meu e que eu podia usufruir dele sem pedir nem agradecer. Agora, que sou muito mais velha e um pouco mais sábia, entendi que nada me pertence de verdade, nem a vida, que passa em um instante, nem meus filhos, que apenas vieram de mim, e muito menos as coisas, que são apenas matéria, e continuarão sendo, mesmo quando eu deixar de ser. Depois de uma vida dedicada às tolices, decidi perdoar-me por ser tola e dar-me a chance de ser generosa, assim eu terei a  única coisa que me pode pertencer: minha própria paz.'
A descoberta  e o texto mexeram profundamente com os sentimentos da filha e da neta. Não era para menos. Elas começaram, então, a lembrar os detalhes da vida da avó, que realmente havia mudado de um comportamento supeficial e mundano para outro, mas profundo e espiritualizado, ao longo dos anos, especialmente após ter enviuvado. Ela havia sido uma mulher rica que não conhecera o sofrimento da escassez ou do desamor. Mas, quando amadureceu, fez uma escolha que definiu como sendo a troca da 'tolice pela generosidade'."

... um pouco de reflexão, poética e sentimento, nesse domingo à noite, dia oficial da melancolia.