domingo, 25 de janeiro de 2009

Mais uma vez, Carpinejar

"Vicente cola seus olhos nos meus. Como uma luneta.
O nariz frio é a ponta do seu dedo me reconhecendo.
Com os rostos próximos, diz que tenho olhos de raposa. Enxerga uma raposa correndo de noite.
- Já viu antes uma raposa?
- Não, não preciso ver para saber como ela é.
(...) Eu já sinto saudade dele mesmo quando estamos juntos. É uma falta antecipada.
Ele não me entende. Busco explicar saudade para suas pupilas paradas de caçador.
(...) Saudade é esperar a ligação do avô que já morreu.
Saudade é não jogar fora as meias que se desencontraram do seu par.
(...) Saudade é um poço artesiano coberto por uma tábua.
(...) Saudade é errar o caminho quando se vai ao trabalho.
Saudade é quando a gente esconde uma lembrança dentro de uma música. E a música dentro de uma lembrança.
(...) Saudade é lembrar do que poderia ter acontecido antes de acontecer.
(...) Saudade é esquecer o que se falou com Deus.
Saudade é saber a importância do que nunca se teve.
Saudade é reconhecer um amigo de infância no filho.
Saudade é sentar na escadaria de uma igreja só para suspirar os degraus que faltam.
Saudade é parar diante de um mendigo com as mãos vazias.
(...) Saudade é escrever o que se precisa ler.
Ao entrar em seu quarto no dia seguinte, escuto sua conversa com a irmã Mariana. Ela o incomodava com tapinhas nos ombros e o enervava com apelidos.
- Quando está longe, só penso coisas boas de você, Mariana. Não estraga a minha saudade."

(CARPINEJAR, Fabrício. Olhos de Raposa, in: www. fabriciocarpinejar.blogger.com.br)


PS. Peço desculpas por postar tanta coisa desse autor, Fabricio Carpinejar, mas por algum motivo sinto que as minhas emoções são mais familiares nas suas palavras.

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